Características farmacológicas lipitor

LIPITOR com posologia, indicações, efeitos colaterais, interações e outras informações. Todas as informações contidas na bula de LIPITOR têm a intenção de informar e educar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um profissional médico ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Decisões relacionadas a tratamento de pacientes com LIPITOR devem ser tomadas por profissionais autorizados, considerando as características de cada paciente.



Propriedades Farmacodinâmicas
Mecanismo de Ação: a atorvastatina, um agente hipolipemiante, é um inibidor seletivo e competitivo da 3-hidroxi-3-metil-glutaril-coenzima A (HMG-CoA) redutase, a enzima limitante responsável pela conversão da HMG-CoA a mevalonato, um precursor dos esteróis, inclusive do colesterol. Em pacientes com hipercolesterolemia familiar homozigótica e heterozigótica, formas não familiares de hipercolesterolemia e dislipidemia mista, a atorvastatina reduz o CT (colesterol total), LDL-C (lipoproteína de baixa densidade) e apo B (apolipoproteína B). A atorvastatina também reduz o VLDL-C (lipoproteínas de densidade muito baixa) e os triglicérides e produz aumentos variáveis no HDL-C (lipoproteínas de alta densidade).
A atorvastatina diminui os níveis plasmáticos de colesterol e lipoproteínas através da inibição da HMG-CoA redutase e da síntese de colesterol no fígado, e aumenta o número de receptores de LDL hepáticos na superfície da célula, aumentando a absorção e o catabolismo do LDL.
A atorvastatina reduz a produção e o número de partículas de LDL. Produz um aumento marcante e prolongado na atividade do receptor de LDL, além de promover uma alteração benéfica na qualidade das partículas de LDL circulantes. O fármaco é eficaz na redução de LDL em pacientes com hipercolesterolemia familiar homozigótica, uma população que não responde normalmente à medicação de redução lipídica.
A atorvastatina e alguns de seus metabólitos são farmacologicamente ativos em humanos. O principal sítio de ação da atorvastatina é o fígado, que é o principal local de síntese de colesterol e clearance de LDL. A redução no LDL-C está mais relacionada à dose do medicamento do que à concentração sistêmica do fármaco. A individualização da dose do medicamento deve ser baseada na resposta terapêutica (vide item 8. Posologia e Modo de Usar).
Em um estudo dose-resposta, a atorvastatina (10 – 80 mg) demonstrou reduzir as concentrações de CT (30% – 46%),LDL-C (41% – 61%), apo B (34% – 50%) e triglicérides (14% – 33%). Estes resultados são compatíveis em pacientes com hipercolesterolemia familiar heterozigótica, formas não familiares de hipercolesterolemia e hiperlipidemia mista, incluindo pacientes com diabetes melito não insulinodependentes.
Em pacientes com hipertrigliceridemia isolada, a atorvastatina reduz o CT, o LDL-C, o VLDL-C, a apo B, triglicérides e não-HDL-C, e aumenta o HDL-C. Em pacientes com disbetalipoproteinemia, reduz a IDL-C (lipoproteína de densidade intermediária-colesterol).
Em pacientes com hiperlipoproteinemia de Fredrickson tipos IIa e IIb, reunidos em 24 estudos controlados, o aumento percentual médio a partir do valor basal no HDL-C para atorvastatina (10 – 80 mg) foi de 5,1 – 8,7% de maneira não relacionada à dose. Além disso, a análise destes dados demonstrou uma redução significativa relacionada à dose nas proporções de CT/HDL-C e LDL-C/HDL-C, variando de -29 para -44% e -37 para -55%, respectivamente.

Propriedades Farmacocinéticas
Farmacocinética e Metabolismo:
Absorção: a atorvastatina é rapidamente absorvida após administração oral e concentrações plasmáticas máximas são atingidas dentro de 1 a 2 horas. A extensão da absorção e as concentrações plasmáticas aumentam em proporção à sua dose. A atorvastatina em comprimidos apresenta biodisponibilidade entre 95% e 99% em comparação à solução. A biodisponibilidade absoluta é de aproximadamente 14% e a disponibilidade sistêmica da atividade inibitória sobre a HMG-CoA redutase é de aproximadamente 30%. A baixa disponibilidade sistêmica é atribuída ao clearance pré-sistêmico na mucosa gastrintestinal e/ou ao metabolismo hepático de primeira passagem. Embora o alimento diminua a taxa e a extensão da absorção do fármaco em aproximadamente 25% e 9%, respectivamente, como observado através da Cmáx e da AUC, a redução no LDL-C é semelhante se a atorvastatina for administrada com ou sem alimentos. As concentrações plasmáticas de atorvastatina são mais baixas (aproximadamente 30% para Cmáx e AUC) após a administração do medicamento à noite, quando comparada à administração pela manhã. Entretanto, a redução no LDL-C é a mesma independente da hora em que o fármaco é administrado (vide item 8. Posologia e Modo de Usar).

Distribuição: o volume médio de distribuição da atorvastatina é de aproximadamente 381 litros. A atorvastatina apresenta uma taxa de ligação às proteínas plasmáticas igual ou superior a 98%. Uma proporção glóbulo vermelho do sangue/plasma de aproximadamente 0,25 indica baixa penetração do fármaco nos glóbulos vermelhos do sangue (eritrócitos).

Metabolismo: a atorvastatina é amplamente metabolizada a derivados orto epara-hidroxilados e a vários produtos de beta-oxidação. A inibição da HMG-CoA redutase pelos metabólitos orto epara-hidroxilados in vitro é equivalente àquela observada com a atorvastatina. Aproximadamente 70% da atividade inibitória circulante sobre a HMG-CoA redutase é atribuída aos metabólitos ativos. Estudos in vitro sugerem a importância do metabolismo da atorvastatina pelo citocromo hepático P450 3A4, de acordo com a ocorrência de elevadas concentrações plasmáticas de atorvastatina em humanos após coadministração com eritromicina, um inibidor conhecido desta isoenzima. Estudos in vitro também indicaram que a atorvastatina é um inibidor fraco do citocromo P450 3A4. A coadministração de atorvastatina e terfenadina não produziu um efeito clinicamente significante nas concentrações plasmáticas da terfenadina, um composto predominantemente metabolizado pelo citocromo P450 3A4. Portanto, é improvável que a atorvastatina altere significantemente a farmacocinética de outros substratos do citocromo P450 3A4 (vide item 6. Interações Medicamentosas). Em animais, o metabólito orto-hidroxilado sofre posteriormente glicuronidação.

Excreção: a atorvastatina e seus metabólitos são eliminados principalmente na bile após metabolismo hepático e/ou extra-hepático; entretanto, o fármaco parece não sofrer recirculação entero-hepática. Ameia-vida de eliminação plasmática média em humanos é de aproximadamente 14 horas, mas a meia-vida da atividade inibitória para a HMG-CoA redutase é de 20 a 30 horas, devido à contribuição dos metabólitos ativos. Menos de 2% de uma dose de atorvastatina é recuperada na urina após administração oral.

Populações Especiais:
Idosos: as concentrações plasmáticas da atorvastatina se apresentam mais elevadas (aproximadamente 40% para Cmáx e 30% para AUC) em indivíduos idosos sadios (65 anos de idade ou mais) do que em adultos jovens. O estudo ACCESS avaliou especificamente pacientes idosos com relação ao alcance da meta de tratamento segundo o Programa Nacional de Colesterol dos EUA (NCEP – National Cholesterol Education Program). O estudo incluiu 1087 pacientes com menos de 65 anos, 815 pacientes com mais de 65 anos e 185 pacientes com mais de 75 anos de idade. Não foram observadas diferenças entre pacientes idosos e a população em geral com relação à segurança, eficácia ou alcance do objetivo do tratamento de lípides.

Crianças: estudos de farmacocinética em crianças não estão disponíveis.

Sexo: as concentrações plasmáticas de atorvastatina em mulheres são diferentes das observadas nos homens (aproximadamente 20% mais altas para Cmáx e 10% mais baixas para AUC). Entretanto, não houve diferenças clinicamente significativas do efeito nos lípides entre homens e mulheres.

Insuficiência renal: disfunção renal não apresenta influência nas concentrações plasmáticas ou no efeito da atorvastatina como hipolipemiante. Portanto, não é necessário o ajuste de dose em pacientes com disfunção renal (vide item 8. Posologia e Modo de Usar).

Hemodiálise: apesar de não terem sido realizados estudos em pacientes com insuficiência renal em estágio terminal, não se espera que a hemodiálise aumente significativamente o clearance da atorvastatina, uma vez que este fármaco se liga amplamente às proteínas plasmáticas.

Insuficiência hepática: as concentrações plasmáticas de atorvastatina aumentam acentuadamente (aproximadamente 16 vezes na Cmáx e 11 vezes na AUC) em pacientes com hepatopatia alcoólica crônica (classe B de Child-Pugh) (vide item 4. Contraindicações).

Interações medicamentosas – o efeito de medicamentos coadministrados sobre a farmacocinética de atorvastatina, bem como o efeito da atorvastatina sobre a farmacocinética de medicamentos coadministrados é resumido nas Tabelas 5 e 6 (vide item 5. Advertências e Precauções e item 6. Interações Medicamentosas):

Tabela 4 – Efeitos na farmacocinética da atorvastatina devido coadministração de medicamentos

Medicamento coadministrado e regime
de dose

atorvastatina
  Dose (mg)

Alteração na
AUC&

Alteração na
Cmáx&

# ciclosporina 5,2 mg/kg/dia, dose estável 10 mg QD por 28 dias Aumenta 7,7 vezes Aumenta 9,7 vezes

# tipranavir 500 mg BID/ritonavir 200 mg
BID, 7 dias

10 mg, SD Aumenta 8,4 vezes Aumenta 7,6 vezes
# telaprevir 750 mg q8h, 10 dias 20 mg, SD Aumenta 6,9 vezes Aumenta 9,6 vezes
* boceprevir 800 mg TID, 7 dias 40 mg SD Aumenta 2,30 vezes Aumente 2,66 vezes

# lopinavir 400 mg BID/
ritonavir 100 mg BID, 14 dias

20 mg QD por 4 dias Aumente 5,9 vezes Aumente 4,7 vezes

#,‡ saquinavir 400 mg BID/
ritonavir 400 mg BID, 15 dias

40 mg QD por 4 dias Aumenta 2,9 vezes Aumenta 3,3 vezes
# claritromicina 500 mg BID, 9 dias 80 mg QD por 8 dias Aumenta 3,4 vezes Aumenta 4,4 vezes

# darunavir 300 mg BID/ritonavir 100 mg
BID, 9 dias

10 mg QD por 4 dias Aumenta 2,4 vezes Aumenta 1,3 vezes
# itraconazol 200 mg QD, 4 dias 40 mg, SD Aumenta 2,3 vezes Aumenta 0,2 vez

# fosamprenavir 700 mg BID/ritonavir
100 mg BID, 14 dias

10 mg QD por 4 dias Aumenta 1,5 vezes Aumenta 1,8 vezes
# fosamprenavir 1400 mg BID, 14 dias 10 mg QD por 4 dias Aumenta 1,3 vezes Aumenta 3,0 vezes
# nelfinavir 1250 mg BID, 14 dias 10 mg QD por 28 dias Aumenta 0,74 vez Aumenta 1,2 vezes
# suco de Grapefruit, 240 mL QD* 40 mg, SD Aumenta 0,37 vez Aumenta 0,16 vez
diltiazem 240 mg QD, 28 dias 40 mg, SD Aumenta 0,51 vezes 0 vez
eritromicina 500 mg QID, 7 dias 10 mg, SD Aumenta 0,33 vezes Aumenta 0,38 vezes
anlodipino 10 mg, dose única 80 mg, SD Aumenta 0,15 vez Diminui 0,12 vezes
cimetidina 300 mg QID, 2 semanas

10 mg QD por 2
semanas

Diminui 0,001 vezes Diminui 0,11 vezes
colestipol 10 mg BID, 28 semanas

40 mg QD por 28
semanas

Não determinado Diminui 0,26 vezes**
Maalox TC® 30 mL QD, 17 dias 10 mg QD por 15 dias Diminui 0,33 vez Diminui 0,34 vez
efavirenz 600 mg QD, 14 dias 10 mg por 3 dias Diminui 0,41 vez Diminui 0,01 vez

# rifampicina 600 mg QD, 7 dias
(coadministrado) †

40 mg SD Aumenta 0,30 vez Diminui 1,72 vezes
# rifampicina 600 mg QD, 5 dias (doses separadas) † 40 mg SD Diminui 0,80 vez Diminui 0,40 vez
# gemfibrozila 600 mg BID, 7 dias 40 mg SD Aumenta 0,35 vez Diminui 0,004 vez
# fenofibrato 160 mg QD, 7 dias 40 mg SD Aumenta 0,03 vez Aumenta 0,02 vez


QD = 1 vez ao dia; BID = 2 vezes ao dia; TID = 3 vezes ao dia; SD = dose única.
& alteração do número de “vezes” = alteração da razão [(I-B)/B], onde I = valor da farmacocinética durante a fase de interação, e B = valor da farmacocinética durante o período basal.
# vide itens 5. Advertências e Precauções e 6. Interações Medicamentosas, para significância clínica.
*Aumentos elevados na AUC (até 1,5 vezes) e/ou Cmáx (até 0,71 vez) foram relatados com o consumo excessivo de suco de Grapefruit (≥ 750 mL – 1,2 litro/dia).
**Amostra única administrada 8 – 16 h pós-dose.
† Devido ao mecanismo de dupla interação da rifampicina, é recomendada a coadministração simultânea de atorvastatina com rifampicina, porque a administração de atorvastatina após administração de rifampicina foi associada a uma redução significativa das concentrações plasmáticas de atorvastatina.

‡ A dose de saquinavir e ritonavir neste estudo não é a dose usada clinicamente. O aumento da exposição à atorvastatina quando usada clinicamente provavelmente seja superior ao observado no presente estudo. Por isso cautela deve ser tomada e a menor dose necessária deve ser usada.

Tabela 5 – Efeito da atorvastatina na farmacocinética de medicamentos coadministrados

atorvastatina Medicamento coadministrado e regime de dose
  Medicamento/Dose (mg) Alteração na AUC& Alteração na Cmáx&
80 mg QD por 15 dias antipirina, 600 mg SD Aumenta 0,03 vez Diminui 0,11 vez
80 mg QD por 14 dias #digoxina 0,25mg QD, 20 dias Aumenta 0,15 vez Aumenta 0,20 vez
40 mg QD por 22 dias

contraceptivo oral QD, 2 meses
– noretindrona 1 mg
-etinilestradiol 35 μg

Aumenta 0,28 vez
Aumenta 0,19 vez

Aumenta 0,23 vez
Aumenta 0,30 vez

10 mg, SD

tipranavir 500 mg BID/ritonavir
200 mg BID, 7 dias

Sem alteração Sem alteração
10 mg QD, por 4 dias fosamprenavir 1400 mg BID, 14 dias Diminui 0,27 vez Diminui 0,18 vez
10 mg QD por 4 dias

fosamprenavir 700 mg BID/ritonavir
100 mg BID, 14 dias

Sem alteração Sem alteração

 


QD = 1 vez ao dia; SD = dose única
&alteração = razão de alteração [(I-B)/B], onde I = valor da farmacocinética durante a fase de interação, e B = valor da farmacocinética durante a fase basal
# vide item 6. Interações Medicamentosas, para significância clínica

Dados de Segurança Pré-Clínicos
Carcinogênese, Mutagênese e Distúrbios da Fertilidade: a atorvastatina não se mostrou carcinogênica em ratos. A dose máxima utilizada foi 63 vezes maior, em mg/kg de peso corpóreo, do que a dose máxima recomendada para humanos (80 mg/dia) e de 8 a 16 vezes maior baseada nos valores de AUC(0-24). Em um estudo de 2 anos realizado com camundongos, as incidências de adenomas hepatocelulares em machos e de carcinomas hepatocelulares em fêmeas se mostraram aumentadas na dose máxima utilizada, que foi 250 vezes superior, em mg/kg de peso corpóreo, do que a dose máxima recomendada para humanos. A exposição sistêmica foi de 6 a 11 vezes superior, baseada na AUC(0-24).Todos os outros fármacos quimicamente semelhantes desta classe induziram tumores em ratos e camundongos com doses de 12 a 125 vezes superiores à dose clínica máxima recomendada, baseada em mg/kg de peso corpóreo.
A atorvastatina não demonstrou potencial mutagênico ou clastogênico em 4 testes in vitro, com ou sem ativação metabólica, nem em 1 estudo in vivo. Apresentou-se negativa para o teste de Ames com Salmonella typhimurium e Escherichia coli e no ensaio in vitro de HGPRT forward mutation em células pulmonares de hamster chinês. Não produziu aumentos significantes em aberrações cromossômicas no ensaio in vitro com células pulmonares de hamster chinês e se apresentou negativa no teste in vivo de mouse micronucleus.
Não foi observado efeito adverso na fertilidade ou reprodução em ratos machos que receberam doses de atorvastatina de até 175 mg/kg/dia ou em fêmeas que receberam doses de até 225 mg/kg/dia. Estas doses são de 100 a 140 vezes superiores, em mg/kg de peso corpóreo, à dose máxima recomendada para humanos. A atorvastatina não causou efeito adverso nos parâmetros de esperma ou sêmen, ou na histopatologia do órgão reprodutivo em cães que receberam doses de 10, 40 ou 120 mg/kg por 2 anos.